A Identidade Religiosa entre os Bantus
Os espíritos Bantus estão reunidos ao redor das águas sagradas, e é difícil saber onde é que a água não desempenhe um papel central.
Não há nenhum lugar onde os espíritos da água e a cristandade estejam tão entrelaçados quanto nessa região da África Central.
O Congo, Angola e áreas adjacentes, que forneceram o maior numero de escravos Bantus para as fazendas do Sul.
Desde o primeiro contato dos portugueses com o reino do Congo, a identidade do negro foi objeto de sérios enganos.
Primeiramente, porque através de toda a África, os ancestrais são considerados brancos, não de pele, mas de alma.
As larvas brancas que consomem os cadáveres, o branqueamento dos ossos no tumulo, a luz radiante de Deus, e o fato de que os recém-nascidos tenham pele clara, quando chegam ao mundo terreno, de sua viagem pelo mundo dos espíritos.
Não há duvidas que esses fatores sugerissem aos negros a "brancura do outro mundo" antes da chegada dos europeus, e bem antes de serem oprimidos pela raça branca.
Mpemba é a palavra Bantu para o giz de Caulim encontrado no fundo dos rios, e usado nos rituais de iniciação pelos sacerdotes que cultuam os espíritos das águas.
É também o nome dado ao reino dos ancestrais, e para os Congoleses cristianizados, é o reino do céu.
Mesmo antes da chegada dos europeus, a cruz já
era um dos símbolos mais sagrados entre os Bantus.
Representava o local de encontro entre Deus no
céu, e os ancestrais na terra, onde o cruzamento era o vilarejo.
Para os povos que moravam na costa e que não
eram marinheiros, acreditava-se que os espíritos ancestrais viviam no fundo do
mar, do outro lado do Atlântico, através da linha da kalunga que dividia ambos
os mundos.
Por isso, quando os missionários franciscanos
chegaram aos seus navios, usando a imagem de um "espirito das águas"
pregado na cruz, praticando o batismo e pregando um evangelho que refletia
perfeitamente o culto dos espíritos da água, não foi acidentalmente que isso
tenha causado um rebuliço na corte do Congo.
Além disso, também tendo se oferecido como
mediadores para o comercio do outro lado do oceano.
A historia da expansão cristã no Congo e Angola
é muito curiosa, e merece a atenção para alguns detalhes.
Há uma quantidade equivalente entre cristãos e
tradicionalistas praticando os ritos de batismo em Victoria Falls nas águas
sagradas do Zambezi.
Tanto um como o outro usam a mesma palavra para
designar Deus, Dzivaguru, significando A Grande Lagoa, e os cristãos Zulus
referindo-se a sua comunidade como "A Igreja da Água".
Nos clãs do Zimbabwe, dança-se para Mambokadzi,
a Rainha das Águas, mas a música que se canta é para a Virgem Maria, a mãe de
Deus.
O uso da água para purificação e cura, a
imploração para que chova, são alguns dos muitos detalhes que se podem citar.
Se não fossem considerados pelos
fundamentalistas cristãos como adoradores do demônio, poderia concluir-se que
ambos os domínios religiosos estão centrados em torno das águas.
A lógica vigente é a seguinte:
Cristo era um espirito das águas que tomou a
forma humana.
Foi por esse motivo que João o batizou.
Além disso, ele andou sobre os peixes, ao ser
possuídos pelos espíritos da água.
E ainda transformou a água em vinho.
Ele afirmou que era a água vivente.
A cristandade que surgiu na África Central
logrou simultaneamente preservar e converter o modo de ser dos ancestrais,
mesmo tentando diminui-lo e transforma-lo.
Não tentaram acabar com esse conceito, ao
contrário, incorporaram-no ao Cristianismo, preservando um conhecimento que
resistiria à passagem do colonialismo e a sobrevivência no novo mundo.
Os padres eram frequentemente levados pelos
vilarejos ao menos uma vez por ano para dar os sacramentos, principalmente o
batismo, que realizaram as centenas e milhares.
Não obstante, os espíritos da água, encontraram
guarida na Igreja dos pretos.
Esses velhos espíritos, conseguiram com a sua
sabedoria, iludir tanto a manipulação dos católicos quanto a dos protestantes
fundamentalistas, por assimilarem a imagem de Cristo aliada à sabedoria
africana.
Eles se aliaram para proteger seus fieis
ameaçados pelas crueldades hediondas do colonialismo, escravidão e racismo e da
própria Igreja.
E quem são esses espíritos das águas?
Um nganga dos tambores (ngoma) de uma casa que
cultua os espíritos das águas explica:
Eles vêm do corpo de Deus e retornam para Ele.
São comparáveis aos anjos, por comunicar-se
diretamente com Deus.
Não oram para nenhum outro espirito entre eles.
Possuem um imenso poder de cura e de sabedoria
divina do Criador.
São a água, o ar, as nuvens e os fazedores de
chuva.
É isso que entendo por espíritos das águas.
São espíritos e fazem uso de mim.
São eles que me disseram que são curadores, e me
ensinaram os passos para curar.
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